Historial
Em 1921, um punhado de homens bons de Ermesinde, conceberam a nobre e humanitária ideia de fundar uma corporação de voluntários. “Uma bomba braçal aposentada pelos municipais do Porto e dez baldes de lona foi todo o material com que iniciaram a sua obra, hoje magnífica, de bem-fazer.”
Dominava o País o período da I República que colhia os frutos de uma revolução social. Todo o mundo botava faladura; políticos de sobra, politiqueiros que bastava. Tempos difíceis, com as estradas péssimas, de terra batida, maquedame, que o bombeiro tinha de percorrer, vencer e galgar.
Naqueles tempos, nas habitações predominava a madeira e mais rápido deflagrava o incêndio. Os meios de o combater eram escassos, reduzidos e morosos, com minguadas possibilidades de êxito. O fogo tudo consumia: vidas, haveres! Nada poupava Um ladrão, como lhe chama o povo – um ladrão cínico, inexorável, déspota, terrível!
No concelho apenas existia a Corporação de Bombeiros Voluntários de Valongo fundada a 10 de Junho de 1883. Contudo, face à distância e à má acessibilidade a geomorfologia topográfica exigia a existência de uma segunda Corporação.
Não se conhece, exactamente, como terá surgido na mente dos seus fundadores, a criação da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Ermesinde – Corpo de Salvação pública. Os documentos factuais não existem – e a imprensa concelhia da época foi muito parca nas informações que imprimiu. No entanto, não andaremos longe da verdade se estabelecermos o sentimento de solidariedade humana como primeiro e fundamental argumento na constatação de quão útil seria ao meio, um corpo de bombeiros voluntários que nos momentos preciosos acorresse a tentar salvar os haveres dos seus patrícios.
Num artigo que A Voz de Ermesinde tornou público José Guilherme Rodado dos Santos – Sócio Fundador dos BVE – refere que “antes da reunião de 1 de Junho de 1921, no Hotel Sobral, uns tantos rapazes (alguns deles também assistiram à reunião em referência) pertenciam à Sociedade e Sport de Ermesinde que, pode afirmar-se tornou-se a predecessora da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários.” Procurando as origens e as causas que fomentaram a ideia da criação da associação, acrescenta que “ à Sociedade e Sport estavam ligados os indivíduos seguintes: Feliciano Sobral, António Augusto Vilar Saraiva, Rodados dos Santos, José Garcia Ribeiro Teles, Alberto Garcia Ribeiro Teles, Augusto Severo Maia de Medina, Eduardo Severo de Medina e os irmãos Mendonças, filhos de Augusto César de Mendonça – sócio-gerente da Fábrica Cerâmica.”
Lembrando o papel da Sociedade e Sport , José Rodado dos Santos recorda que esta “era dirigida pelo capitão Cordeiro e pelo seu filho, o 1º sargento Cordeiro. Este último ministrava aulas de Educação Física aos jovens.”
“Certo dia” – explica – “veio a esta localidade o Comandante Belo Morais, que teve uma demorada conversa com o capitão Cordeiro (acrescente-se que o primeiro Comandante da Corporação de Ermesinde – João Maria Belo de Morais – era filho de Belo Morais, atrás citado). Pois é verdade: nesse encontro lançou-se a ideia de se levar por diante a criação de uma Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários. A Sociedade e Sport foi, sem dúvida, a raiz fecunda que gerou tão bela Árvore”.
Domingos Santos, aquando das Bodas de Ouro da Associação, apresenta análoga explicação:
“Durante a Grande-Guerra (1914-1918) foi criada nesta vila a ‘Instrução Militar Preparatória' visto a Pátria se encontrar ameaçada. Apesar daquele sangrento conflito haver terminado, a ‘Instrução' continuou por mais uns anos. Dela faziam parte os jovens de Ermesinde e arredores. Como instrutor um tenente do nosso Glorioso Exército, e como instruendos, Feliciano Sobral, Carlos Meireles Mendonça, José Guilherme Rodados dos Santos, Joaquim e Alberto Garcia Ribeiro Teles, Augusto Fernandes de Carvalho (mais conhecido por Jacques-o-Bombeiro número um da nossa Corporação) – os filhos do ‘Lameirão',os ‘Medinas', etc, etc.
Talvez porque o seu entusiasmo a todos contagiasse, a verdade é que os futuros soldados, quando descansavam do seu esquerdo, direito, um, dois, debaixo da arcada da Fábrica Cerâmica, foram-se mentalizando para a criação de uma Corporação de Bombeiros em Ermesinde. O próprio instrutor os ajudava nessa aspiração.
Gente com vontade de vencer existia. Faltavam os chamados ‘homens de peso e de dinheiro', que pudessem arcar com a responsabilidade de dar vida a uma coisa ainda em congeminação. O entusiasmo dos mais novos, porém, levou os mais velhos a dar a sua preciosa ajuda e saber para a concretização desse sonho.
E numa tarde domingueira, no primeiro dia do mês...estava criada a corporação.”
Certo, é que em 1 de Junho de 1921 o Corpo de Bombeiros já tinha nomeado, e graduado, aqueles que seriam respectivamente, o 1º e 2º Comandante, nascendo oficialmente nessa mesma manhã tendo por progenitores e padrinhos, num mesmo tempo. Posteriormente, surgem outros nomes referenciados como Sócios- Fundadores. Contudo e face à leitura da Acta da Reunião dos Fundadores da “Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Ermesinde” – Corpo de Salvação Pública, à comunicação enviada ao Governo Civil do Porto e aos Primeiros Estatutos das AHBVE, todos estes três documentos datados de 1 de Junho de 1921 – data da Fundação – são omissos em relação a quaisquer outro nome que não os já citados. Entendemos pois, - e embora nem todos os subscritores terem o seu nome em todos os documentos – considerá-los, tal como provam as fontes primárias, Sócios Fundadores dos Bombeiros Voluntários de Ermesinde .
Estabelecidos os primeiros passos com a aprovação dos Estatutos da Associação e aberto o caminho “para confecionar o regulamento do Corpo Activo” preparava-se a Corporação para “tratar de todos os assuntos para que a nova associação ficasse por lei legalizada, afim de serem seguidamente eleitos os Corpos Gerentes”.
Com a primeira sede a funcionar temporariamente na Travagem, a instituição ganhava a forma desejável. A vida administrativa surgia com a angariação dos primeiros sócios e a constituição dos primeiros Órgãos Gerentes em 11 de Setembro de 1921.